27 de jun. de 2011

TEC-VE 2011


TEC VE 2011
Auditório do TEC-VE 2011 - Excelente!

Motivação:

Quando fiquei sabendo da TEC VE 2011, logo pensei que seria interessante participar. Marquei um vôo de Curitiba para Brasília e reservei o hotel.
E não me arrependi.
Foram 2 dias muito interessantes. Em primeiro lugar por encontrar os amigos Elifas Gurgel e Valter Knihs. Também conheci o Paulo Barbosa, Flávio Alexandre e o Marcelo Soares, todos do conceituado grupo de discussão sobre Carros Elétricos no Google.
Paulo, da NPR Eletrônica está desenvolvendo em parceria com a Voges um kit Inversor+Motor para aplicações automotivas.
Flávio Alexandre também trabalha, por conta própria, num sistema totalmente desenvolvido por ele. Turma técnica de alto nível. Uma honra estar com eles.

Paulo PRecurso, Flávio Alexandre e Cepimpao - Grupo Google presente

Ponto forte do seminário:

O ponto mais forte do seminário foi trazer, aos participantes, uma visão geral do momento do carro elétrico no Brasil. As palestras trouxeram as tendências técnicas, projeções de mercado, metas e logísticas de suprimento de infraestrutura necessária e impactos sociais do advento do carro elétrico.

Nissan Leaf, Mitsubishi Miev e Iveco


Resumo das informações recebidas:

Claro que não conseguiria trazer todas informações repassadas no seminário em poucas linhas. Resumindo os prinicipais pontos temos:

  • A frota de carros elétricos terá um crescimento muito lento no Brasil.
  • A capacidade de geração de energia elétrica do Brasil é suficiente para alimentar a frota de carros elétricos. O impacto será mínimo em função do tipo de carga que os carros necessitam – 8 horas de carregamento e no período noturno.
  • As empresas de distribuição de combustíveis (Petrobrás) já estão se preparando para atender a demanda de cargas elétricas em seus postos.
  • A Renault/Nissan aposta em carros puramente elétricos, não terá híbridos.
  • A Ford aposta em carros híbridos.
  • A entrada de carros elétricos no Brasil é impossibilitada pelos altos percentuais de impostos como o Imposto de Importação (35% ) e do IPI (25%). Um carro que custa 32 mil dólares nos Estados Unidos, custaria no Brasil, em torno de 200 mil reais.
  • O Brasil não detém a tecnologia de fabricação de baterias de Ion de Lítio.
  • O Brasil não tem grandes reservas de Lítio.
  • O Brasil detém somente tecnologia de fabricação de baterias de chumbo ácido.
  • O Brasil (Itaipu) tenta desenvolver baterias de sódio.
  • O Brasil já tem disponível aços especiais para uso na indústria automotiva mas ainda usa muito pouco deste material.
  • Os super-capacitores são uma realidade cada vez mais viável. Capacitấncias atingem 3000 F em um só módulo.
  • Brasil domina tecnologia de fabricação de motores de ímãs permanentes de terras raras bem como o acionamento eletrônico necessário (WEG).
  • Governo brasileiro quer carros híbridos com etanol.
  • Governo não vai reduzir impostos de importação para veículos elétricos.
  • Governo quer que Brasil desenvolva tecnologia de carro elétrico internamente oferecendo inclusive linhas de financiamentos para tal. Durante o evento foi anunciada a aprovação por parte do BNDES de financiamento para a WEG.

Valter Knihs da WEG: Empresa é mundial mas nos motores para carros prioridade é Brasil

Ponto fraco do seminário:

Foi frustrante a participação da representação do governo brasileiro no evento. Nem tanto pela apresentação, em tom de superioridade arrogante, do secretário-executivo do ministério da fazenda, mas sim, pela falta de educação e consideração do Ministro Reis Velloso. De forma grosseira desejou, já de pronto uma “boa tarde, principalmente às meninas”. Depois, mostrando estar incomodado e com pressa de se retirar, cortou as apresentações de debatedores, permitiu apenas a resposta de uma pergunta dos participantes e mandou o vice-presidente da ANFAVEA, não falar mais do que 5 minutos.
Pessoas como eu, que paguei do meu bolso uma viagem de mais de 2 mil quilômetros para poder participar de um evento, na minha opinião, de extrema importância, tive que ver um servidor público, pago com meu imposto, desmerecer os participantes e comissão organizadora do evento, com um comportamento totalmente inaceitável. Senti vergonha.


Experiência prática:

Além das palestras, tivemos a oportunidade de analisar de perto os carros elétricos da Itaipu (Pálio e Iveco), da Misubishi (Miev) e da Nissan (Leaf). Sem falar do Gol elétrico do Elifas Gurgel e o triciclo elétrico da Trike, do nosso amigo Osório- veja www.trikke.com. Tanto o Trike, como o Mitsubishi Miev, não pararam um só minuto. Permitiram aos participantes dar uma volta pelo amplo espaço do Hotel Tulip.
Mistubishi Miev - Custaria R$ 200 mil no Brasil

Elifas Gurgel e seu Gol Elétrico

Osório demonstrando o Trikke elétrico

Sofisticação no interior do Nissan Leaf



Minhas Conclusões:

De forma geral podemos dizer que o Brasil vai ficar afastado do carro elétrico. Será para poucos, se depender do governo. A brecha é desenvolver a tecnologia aqui mesmo. É a única saída sinalizada pelos representantes do governo, durante o seminário.
Assim sendo, temos que arregaçar as mangas, envolver as universidades nas atividades de pesquisa e desenvolver as baterias com capacidades energéticas pelo menos 3 vezes maior do que as atuais, de chumbo. É o ítem que falta para viabilizarmos o carro elétrico no Brasil. O restante, motor e acionamento, temos com qualidade e tecnologia de sobra.
O caminho inicial será através de conversões de carros a gasolina, feitas por instituições de pesquisa e fanáticos como eu, Elifas e outros, que sonham com um aproveitamento energético melhor e mais eficiente.

As posições do presidente da Associação Portuguesa e Europeia de Veículos Elétricos, o simpático Sr. Stüssi, também me fizeram pensar. Ouvindo os relatos e as experiências que teve na Europa, percebi que temos que rever nossos conceitos sobre automóveis. Isto porque, em média, só andamos 40 km/dia. Não precisamos de carros que andam a 200 km/h se a velocidade média dos carros, no centro das grandes cidades, é menor do que a de uma carroça. 
Poderíamos simplificar os carros, baratear e viabilizar uma série de projetos, até mesmo com baterias de chumbo. 
Temos que mudar as nossas cabeças, alinhadas com o marketing agressivo das montadoras, onde o bacana é ter um carro com 200 cavalos de potência. Perguntei ao presidente da Ford porque a indústria não pensava em fazer carros com menor velocidade final, uma vez que isto, como foi demonstrado em várias palestras, diminuiria o consumo de combustível, baratearia os carros, deixaria menos mortos nas estradas etc... A resposta foi interessante: "Fazemos os melhores carros possíveis e deixamos ao cliente a decisão de andar em alta velocidade, ou não."
Me pareceu, de certa forma, uma fuga da responsabilidade por parte da montadora. É como colocar uma metralhadora na mão de uma criança. Depois lamentar, quando a arma disparar.
Mas o mundo é cheio de paradoxos em função do interesse econômico. Fabricamos carros que atingem 250 km/h e limitamos a velocidade máxima nas rodovias para aproximadamente 100 km/h.
Fabricamos bebidas alcoólicas, incentivamos o consumo exagerado, mostrando todos bebendo, ao lado de lindas mulheres e depois dizemos: Se beber não dirija.
Outros exemplos poderiam seguir. Mas já estou me tornando um chato, não é?


Parabéns a ABVE, seu presidente Jaime Buarque de Hollanda, Jussara e demais membros da organização do evento. Foi excelente.